(texto originalmente escrito para apresentação do livro A densidade do céu sobre a demolição (Confraria do Vento, 2009), de Casé Lontra Marques, e publicado em adensidadedoceusobreademolicao.blogspot.com)
Procurar na perseguição da metáfora uma chave comum de decodificação é, nessa poesia, declinar em consumo – “O poema ensina a cair \ sobre os vários solos”, nos diz Luiza Neto Jorge. É a própria escrita poética, também em Casé Lontra Marques, que propõe o movimento: ora se aproximando da atenção ora do sarcasmo é como aceitamos intensificar uma desorientação (ou uma “reorientação dos atos de distração”), o passo que rompe o silêncio e conduz ao desconforto (uma possibilidade de alargamento da intensidade).
A densidade do céu sobre a demolição é uma contundente proposição de fala, o poeta persegue “tanto ritmos quanto cores” e compõe, em movimento de procura (por sintaxes, repetições, ressignificações), uma ácida e sofisticada crítica política da subjetividade: a poesia, “área de sobrevivência”, sem recusar a urgência do corpo depositado sobre o asfalto, propõe uma extensão da experiência, a possibilidade de “conhecer com mais braços para criar”; e o leitor é com-vocado (convidado a tomar a palavra e romper a fala ausente).
Apesar de tanto essa convocação quando a busca pela linguagem serem, desde Mares inacabados, horizontes específicos e produtivos da escrita do poeta, em A densidade do céu sobre a demolição, os horizontes são potencializados e a escrita encontra seu momento de maior sofisticação – e até a definição de uma poética é, aqui, enfaticamente, intensificado. Casé Lontra Marques transita pela história da literatura, pelos tipos de discursos, pelos recursos poéticos e narrativos com maestria, o poeta compõe o movimento que não se pode recusar.